Entrevista com Wagner Sarmento, o autor do livro Sergio Vieira de Mello: O Legado De Um Herói Brasileiro

Zaz Produções - 08 de Abril de 2020


Em tempos de “guerra” contra a COVID-19, lembramos de um herói brasileiro, Sergio Vieira de Mello, que atuou em missão de paz nos principais conflitos mundiais, como Bangladesh, Camboja, Líbano, Bósnia e Herzegovina, Kosovo, Ruanda e Timor-Leste, e morreu durante atentado terrorista (autoria reivindicada pela Al Qaeda) ao prédio das Organizações das Nações Unidas (ONU) em Bagdá (Iraque), em 19 de agosto de 2003.
Sergio nasceu em 15 de março de 1948 no Rio de Janeiro. Após finalizar o segundo grau na capital fluminense, ingressou na Universidade de Paris (Sorbonne), onde obteve licenciatura e mestrado em filosofia, e doutorado em letras e ciências humanas. Durante 34 anos, o diplomata brasileiro foi funcionário da Organização da ONU. Nesse período, Sergio atuou no escritório para refugiados das Nações Unidas, a ACNUR. Entre 2002 e 2003, o diplomata ocupou o cargo de Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, o brasileiro com a carreira mais brilhante nas Nações Unidas.
A trajetória do Sergio Vieira de Mello é tema do livro e documentário o livro “Sergio Vieira de Mello: O Legado De Um Herói Brasileiro”, lançados em 2018. Produzido e dirigido pelo André Zaravize, CEO ZAZ Produções, o documentário encontra-se disponível gratuitamente no Youtube.
Já o livro foi escrito pelo jornalista e historiador Wagner Sarmento. Nascido em Recife, capital de Pernambuco, aos 35 anos, 11 deles dedicados ao jornalismo, Sarmento recebeu os prêmios Embratel, Caixa, Cristina Tavares e CNT, por matérias e reportagens relacionadas aos Direitos Humanos e às populações vulneráveis do Brasil. Antes de escrever o livro, Sarmento tirou o historiador da “gaveta” e o colocou para estudar os principais conflitos mundiais a partir da segunda metade do Século XX, como a Guerra Fria, a Guerra do Vietnã e até mesmo o ataque terrorista ao World Trade Center, em Nova Iorque, em 2001. A ideia original era destacar o trabalho do Sergio no Iraque, onde ele foi morto, porém as dificuldades para a obtenção da documentação necessária para produzir o livro e o documentário lá, fizeram com que Sarmento refletisse sobre toda a carreira do ex-funcionário da ONU e compreendesse que o Timor-leste foi o país mais transformados pelo trabalho do Sergio. Conversamos com jornalista e escritor Wagner Sarmento que nos contou sobre o processo de criação do livro.

ZAZ - Como surgiu o convite do André Zavariza, CEO da ZAZ Produções, para você escrever o livro com a biografia do Sergio Vieira de Mello?
Sarmento - Eu conheci o André em um curso do Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil (CCOPAB) para jornalistas em zonas de guerra e áreas de conflitos. O André fez o curso na mesma turma que eu, em 2017. A gente ficou amigo rapidamente, por alguns interesses em comum. O André é um cara muito inspirador, muito apaixonado por tudo que ele faz. É um cara que sabe fazer as coisas acontecerem. A partir da nossa amizade, a gente começou afinar um pouco este projeto (o livro e o documentário sobre a trajetória do Sergio). O projeto nasceu muito antes do convite do André, nasceu aí. O CCOPAB coincidentemente ou não (risos) se chama Centro Sergio Vieira de Mello. Então, o nome do Sergio esteve presente desde o momento que a gente se conheceu.

ZAZ - Como historiador, conte-nos sobre o seu processo de pesquisa para produzir o livro?
Sarmento - O trabalho preparatório foi muito árduo, muito trabalhoso e complicado, por mais que a gente esteja falando de uma pessoa, por mais que o trabalho tenha o caráter biográfico, mas ele não refere-se apenas à vida de Sergio Vieira de Mello. Falar de Sergio é falar sobre os principais conflitos do mundo durante a segunda metade do século passado. Tinha que estudar e me preparar em várias frentes, como a descolonização da África, Guerra Fria, Guerra do Vietnã, dissolução da União Soviética com os países do leste europeu, já que ele também atuou por lá. Timor-leste que é um lugar totalmente desconhecido para muitos brasileiros e é um país que fala Português cravado na Ásia. O 11 de setembro pois a morte do Sergio, que ocorreu em Bagdá, está relacionada diretamente ao ataque terrorista às torres gêmeas em Nova Iorque, promovido pela Al Qaeda, em 2001. Então, também estudei o islamismo, o extremismo islâmico, os Estados Unidos. Enfim, a geopolítica atual, aquele acontecimento do 11 de setembro está presente até hoje. Eram muitos temas para serem pesquisados, para a gente poder descobrir fontes, além de conhecer pessoas que conheceram o Sergio, também tinha que pesquisar especialistas nesses tópicos.

ZAZ - Por que vocês optaram pelo Timor-leste como cenário do livro e do documentário?
Sarmento - Quando o André me chamou para o projeto, inicialmente, seria no Iraque e na Síria. Ele chegou até dar entrada na documentação, mas estava muito difícil da gente conseguir os documentos. No meio desse processo, eu refleti “ok, o Sergio morreu no Iraque, mas era um pedaço muito pequeno da vida dele, de tudo que ele realizou em 34 anos de ONU”. Aí dentro das minhas pesquisas, eu disse para o André “A gente tem que ir para o Timor-leste”. É lá a experiência mais bem sucedida, mais importante da ONU, onde as Nações Unidas tiveram um mandato mais amplo, mais completo, que foi importante mesmo para reconstrução do país, para a redescoberta de um país. Foi fundamental também na história do Sergio Ele era cotado para ser o futuro Secretário Geral da ONU. É claro, por toda a trajetória dele, o Sergio era um grande negociador, um cara que batalhou pelos refugiados, pelos Direitos Humanos, mas em muito pela ação dele no Timor-leste. Então, a gente conversou sobre isso, o André foi bem receptível desde o primeiro momento, aí nós dois decidimos que o Timor-leste era o local para onde a gente devia ir. O que a gente queria mostrar (no livro e no documentário) era o que o Sergio mudou na vida daquelas pessoas 15 anos depois, de um país tão sofrido. Foi o Timor-leste que norteou o nosso trabalho, mas também fomos para o Camboja, Vietnã, outros lugares, já que o André queria retratar a situação dos refugiados. O trabalho foi cheio de momentos marcantes.

ZAZ - Fale sobre o Sergio Vieira de Mello que você conheceu durante todo o processo de pesquisa do livro?
Sarmento - O que mais me impressionou era a paixão com que as pessoas falavam do Sergio, falavam com brilho nos olhos. O Sergio era um cara muito apaixonante e muito apaixonado por tudo. Ele não fazia as coisas por fazer, ele fazia com tesão, com gana e porque acreditava. Embora fosse muito pragmático, tinha uma leitura de contexto muito diferenciada, alguém que tinha os ideais dele, os sonhos e as paixões dele. Ele exalava isso, todo mundo que fala do Sergio, fala com paixão.

ZAZ - O que mais marcou do Sergio para você?
Sarmento - O Sergio é muito atual. Eu fui para um evento de refugiados em São Paulo, a gente criou uma hashtag #SergioVive. Isto ficou muito claro para mim, sobretudo no mundo que a gente vive hoje. O Sergio atuava na área de Direitos Humanos, mas grande parte da carreira dele na ONU, ele trabalhou com refugiados, na área da ACNUR. Sergio ajudou milhões de refugiados a voltarem para as suas casas ou a serem realocados em outros países e viverem em segurança, sem perseguição política, étnica, religiosa, entre outras. A situação dos refugiados com os conflitos no Oriente Médio ou Israel e Palestina, os palestinos são refugiados históricos, um nó muito difícil de desatar. O Sergio está presente em todas as pessoas que trabalham com refugiados. Todos nós somos finitos, a gente vive e morre, ninguém escapa disso, mas alguns seres conseguem transcender. O Sergio é uma dessas pessoas, ele está vivo em muita gente, em muitas ideias.


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